Eu não conheci bem a Márcia. Ela começou a se envolver com a bike e com a Bicicletada pouco antes de eu precisar me afastar um pouco disso tudo que mudou minha vida (isso é papo pra outro pôr-do-sol). Mas hoje eu fiquei lembrando quado a gente se conheceu, no dia do Embú. Cheguei exausta e suja de lama, por pedalar na chuva, com o André e com o Felipe. Todo mundo estava na mesa bebendo e comendo (mais bebendo que comendo, a não ser o André), e a Márcia estava perto da lareira, com o olho arregalado. Fui falar com ela, conversamos um pouco. Ela estava meio assustada, achando que não ía aguentar pedalar na volta. Tudo aquilo pareceu tão novo pra ela....
Eu falei que tinha certeza que ela chegaria (a gente sempre chega.....(?)). E que, com a gente, ninguém fica pra trás. Mas me pareceu que ela já sabia disso, porque desde o princípio, ela já estava entre nós. Já sambava do nosso lado. De fato, na volta ela precisou da cordinha cavalheira do Márcio.
Pouco tempo depois ela já estava pedalando muito mais do que muita gente que ela conheceu na Bicicletada.
Nos falamos alguma vezes e ela era uma moça gentil. Ela me parecia muito corajosa, encarou várias pedaladas, cicloviagens e, em poucos meses, era a 1a. dama da roda fixa. Estava toda orgulhosa da exaustão de seu corpo ao pedalar a cicloviagem São Paulo-Ubatuba...
É: a magrelinha fisgou o coração e a consciência da Márcia. E foi com muita raiva que escutei hoje no meu trabalho: "ai, dra, mas também, o que é que ela foi fazer de BICICLETA na Av. Paulista?" QUÊ????????????????
Pois isso era o que ela usava par ir e vir. Era o que ela usava pra ir trabalhar. Era como ela escolheu viver a vida dela... Tentar ficar de fora da insanidade e da prisão motorizada. Foi a vida que a fez feliz. E ela estava feliz mesmo. Assim a gente sabia, assim disseram parentes dela.
E essa moça feliz, que saiu de sua cidade pra construir a vida em São Paulo, estava indo provavelmente trabalhar, como todos os dias. Ela só estava indo trabalhar. Sabe, me disseram: "... diz que ela jogou o guidão pra cima do ônibus, né?" QUÊ????????????????
Eu fico assustada com o que a mentalidade dessa sociedade do automóvel faz com as informações.
Ela só estava indo trabalhar... e foi ESMAGADA por um ônibus. O corpo dela se partiu. A bike ficou inteira. Imagino que ela deve te sido derrubada. Agora, se imagine... estando de bicileta, moto, ou a pé, passando perto do meio fio. Um ônibus, vem querer ganhar tempo, em cima de você. Você SABE que o ônibus é enorme. O tamanho, a rapidez, o barulho alto, o ar quente que se forma em volta de você numa fração de segundo...... E, numa fração de segundo, você SENTE como ele é enorme.
No mesmo instante, você está numa frestinha de rua, entre o ônibus e a calçada. Você pára. E fica torcendo pro ônibus ir rápido pra te ultrapassar antes de ocupar a faixa. Porque você não tem a menor chance.
Se qualquer coisa que anda motorizada nessa cidade não respeita ou não enxerga que há outras coisas acontecendo, você, ciclista ou pedestre.... Se dá conta de como é pequenino. Você é esmagado. E eles só param quando "sentem um tranco".
E qual a solução que ele te impõem? Ande motorizado! É melhor pra você, pros cofres públicos (?), pras contas particulares....
Eu estou com um nó na garganta. Eu estou com medo por todos que gosto demais aqui. Eu estou com medo de ter medo.
E a nossa moça não teve a menor chance. Ela não teve a menor chance.
Eu falei que tinha certeza que ela chegaria (a gente sempre chega.....(?)). E que, com a gente, ninguém fica pra trás. Mas me pareceu que ela já sabia disso, porque desde o princípio, ela já estava entre nós. Já sambava do nosso lado. De fato, na volta ela precisou da cordinha cavalheira do Márcio.
Pouco tempo depois ela já estava pedalando muito mais do que muita gente que ela conheceu na Bicicletada.
Nos falamos alguma vezes e ela era uma moça gentil. Ela me parecia muito corajosa, encarou várias pedaladas, cicloviagens e, em poucos meses, era a 1a. dama da roda fixa. Estava toda orgulhosa da exaustão de seu corpo ao pedalar a cicloviagem São Paulo-Ubatuba...
É: a magrelinha fisgou o coração e a consciência da Márcia. E foi com muita raiva que escutei hoje no meu trabalho: "ai, dra, mas também, o que é que ela foi fazer de BICICLETA na Av. Paulista?" QUÊ????????????????
Pois isso era o que ela usava par ir e vir. Era o que ela usava pra ir trabalhar. Era como ela escolheu viver a vida dela... Tentar ficar de fora da insanidade e da prisão motorizada. Foi a vida que a fez feliz. E ela estava feliz mesmo. Assim a gente sabia, assim disseram parentes dela.
E essa moça feliz, que saiu de sua cidade pra construir a vida em São Paulo, estava indo provavelmente trabalhar, como todos os dias. Ela só estava indo trabalhar. Sabe, me disseram: "... diz que ela jogou o guidão pra cima do ônibus, né?" QUÊ????????????????
Eu fico assustada com o que a mentalidade dessa sociedade do automóvel faz com as informações.
Ela só estava indo trabalhar... e foi ESMAGADA por um ônibus. O corpo dela se partiu. A bike ficou inteira. Imagino que ela deve te sido derrubada. Agora, se imagine... estando de bicileta, moto, ou a pé, passando perto do meio fio. Um ônibus, vem querer ganhar tempo, em cima de você. Você SABE que o ônibus é enorme. O tamanho, a rapidez, o barulho alto, o ar quente que se forma em volta de você numa fração de segundo...... E, numa fração de segundo, você SENTE como ele é enorme.
No mesmo instante, você está numa frestinha de rua, entre o ônibus e a calçada. Você pára. E fica torcendo pro ônibus ir rápido pra te ultrapassar antes de ocupar a faixa. Porque você não tem a menor chance.
Se qualquer coisa que anda motorizada nessa cidade não respeita ou não enxerga que há outras coisas acontecendo, você, ciclista ou pedestre.... Se dá conta de como é pequenino. Você é esmagado. E eles só param quando "sentem um tranco".
E qual a solução que ele te impõem? Ande motorizado! É melhor pra você, pros cofres públicos (?), pras contas particulares....
Eu estou com um nó na garganta. Eu estou com medo por todos que gosto demais aqui. Eu estou com medo de ter medo.
E a nossa moça não teve a menor chance. Ela não teve a menor chance.
Alguns outros desabafos:
Aninha
Bicicletada
Na medida do humano
3 comentários:
Chantal,
Fiquei emocionado com o momento do Embu, na qual ainda não tinha coragem de pedalar. O que você falou é uma verdade, todos conseguem!!!
Obrigado pela sua amizade!!!
Exatamente Cha!
Nesse dia para o Embu foi a primeira dela! Lembro também o receio dela, mas nunca pensou em desistir!
Foi em agosto, e em janeiro ela se foi!
Mas ela estava feliz, muito feliz. Pedalou conosco e sempre estará do nosso lado!
Beijos
Amigos lindos... que bom estar entre vocês! Foi tão bonito o dia do Embú. Também foi uma conquista pra mim.... O que importa é isso... estamos juntos! E vamos pensando, meditando, desejando ter, finalmente, paz nessa loucura de cidade.
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